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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Os jornais não contaram

Por volta das 11h30, Demócrito Dummar chega a sua casa, na Aldeota, numa esquina vicentina. Pessoas trabalhavam no conserto ao portão da garagem, avariado no dia anterior. Recebe a visita de seu advogado. A semana não fora de boas notícias, agravando um quadro de saúde depressivo, sob controle medicamentoso. Dívidas que se acumulam. Especula-se que o advogado falou da execução de uma delas.

Depois que o advogado sai, Demócrito leva consigo a Loura, um papagaio de estimação, e se tranca no banheiro térreo da casa dúplex. Com ele, também um 38, de propriedade de um segurança. Cinco tiros, duas cápsulas não deflagradas. Dois disparos à altura do peito e o fatal, na fronte.

Era forte o barulho de buzinas dos pais mal educados que terceirizam ao Santa Cecília a educação que não sabem dar aos filhos. A algazarra evitou que os do andar de cima ouvissem os estampidos. Por volta das 13h30, a presença de Demócrito era reclamada à mesa do almoço. Alguém ainda brincou com a demora: “Será que foi seqüestrado?”

O enteado Ronaldo, conhecido como Rony, vai em busca do padrasto. No banheiro, ninguém responde. Com a ajuda de mais gente, Rony arromba a porta. A tragédia de quem partiu, o drama de quem ficou. Mais dores se avizinhavam.

Com a chegada da polícia, nenhuma hipótese descartada. Três tiros, difícil de acreditar em suicídio. A mulher, que perdera o marido, enfrenta a suspeita de homicídio por parte do filho. Mesmo porque era conhecido o histórico de pequenas desavenças entre enteado e padrasto. Coisa banal, mas às vezes usada como ingrediente de realce de uma circunstância.

Ela mesma alvo de suspeita: crime passional? Cruel exercício da inquirição policial. O exame de parafina repõe a realidade. Matou-se. Os primeiros tiros não atingiram órgãos vitais. A determinação deu seqüência ao ato final.

Demócrito sempre foi forte, até a última prova. Era a força do Povo, como denota a origem do seu nome em grego. Instigante toda a vida, deixa seu maior desafio aos sucessores e à sociedade cearense: manter o jornal no nível de excelência em que ele colocou. É a maior e melhor homenagem que lhe fazem.

PS: as informações cruciais para montar a história foram confirmadas sempre por mais de duas pessoas. A questão da dívida é apontada por todos, alguns chegaram a falar na possibilidade de prisão por causa delas. O prédio do jornal estaria penhorado. Fala-se muito. Não tive como confirmar, deixo-as no armário da especulação. O que pude confirmar é que as dívidas, só com o INSS, somam mais de R$ 65 milhões.