Informação a prestação
Mais uma colaboração de Paulo Brasil, com seus achados. Esta é do Diário do último dia 30.
Para saber que alguém foi atingido num tiroteio, o leitor tem que ler a matéria Bandidos atiram contra casal e bebê com muita atenção. Na chamada de capa, alguém quase foi atingido:
Um casal e seu bebê de nove meses quase foram atingidos por tiros em tentativa de assalto contra eles, ontem, no Monte Castelo.
No texto da matéria, no fim do segundo parágrafo, sem ainda assumir a informação, um vislumbre:
Alexandre, segundo sua esposa, teria sido atingido pelos disparos
Na última oração do texto, enfim, a informação:
O comerciante sofreu um tiro na coxa esquerda e outro, de raspão, no pescoço, mas não corre risco de morte.
Vacilante na oferta da notícia, o repórter deixou clara sua falta de intimidade com a língua na expressão que usou para dizer que não corre risco de vida. Ora, se o homem quase nem leva tiro...
2 comentários:
"Risco de morte" é que está correto. Quem está vivo, só pode correr é risco de morrer e não de viver.
Por muito tempo se usou a expressão "risco de vida" sem se dar conta de que não faz nenhum sentido. Ultimamente os jornais estão de parabéns por abandonar o uso.
Caro Washington, seu raciocínio despreza uma das riquezas da língua, de todas elas: as expressões idiomáticas. Deixa de lado também as sutilezas das figuras de linguagem. Na expressão "risco de vida", há uma delas, chamada elipse: risco de (perder a) vida. Dizer que quem a escrevia não dava "conta de que não faz nenhum sentido" é menosprezar os grandes escritores, que sabem um pouco mais sobre o idioma do que nós, pobres mortais.
A expressão "risco de morte", apesar de eu achar que seja de "laboratório", não está errada, apenas não tem abonação nos dicionários nem dos escritores. Errada mesmo é a justificativa para usá-la em detrimento da já consagrada. Aí, sim, é pura ignorância.
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