quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Agência desocupa UFC

Esta é uma colaboração da leitora Jussara, saiu no jornal O Estado, de Fortaleza, não de S. Paulo.

Sob o título "Reitoria da UFC continua ocupada", o Estado colocou na matéria este "erramos", que eles chamam de "conserto":
Pobre do Estadinho, tão perto do fato, tão longe da verdade. As tecnologias modernas ( e não falo só da internet, vale desde o telefone) aproximam o distante e distanciam o próximo. Temos um grande volume de informação, geralmente distante. A notícia do que acontece na vizinhança às vezes chega mais tarde. Foi o caso.

A invasão da UFC foi em Fortaleza, cidade sede do jornal. Eis que ele publica matéria vinda de agência de notícia do Sudeste (Rio ou São Paulo) sobre um fato acontecido nas suas biqueiras. E dava uma novidade: o bando de desocupados havia desocupado a UFC. Um telefonema, o próprio site da UFC. Pois é, a preguiça fez com que pagasse esse mico. Desmentir uma notícia infundada.

E não é só porque o Estado é pequenino não, é só exemplo. Os grandes também dizem amém ao que vem das agências. Mesmo quando cobrem cometem falhas elementares, como a da invasão da reitoria da UFC. Os repórteres não se deram ao trabalho de falar com o DCE, nem com a Adufc. Só com os invasores "agredidos".

PS - Saiu o resultado do exame sobre a "agressão" sofrida pela estudante de Farmácia? Se era só acne, passar creme e um pouco de vergonha na cara.

domingo, 28 de outubro de 2007

Tropa no Diário

Foto do dia, de Kid Júnior, capa do Diário.
Um show de fotos, um texto aquém. Sem personalidade (sem assinatura) e sem personagem. No "auge do filme Tropa de Elite", como justificou o Diário, fez-se uma matéria apressada. O sucesso do filme está no capitão Nascimento. Nesta matéria, não tem pessoas, uma coleção de anônimos e de pieguices, que você pode conferir aqui Ceará treina sua tropa de elite

sábado, 27 de outubro de 2007

Desgracinha dermatológica

A coluna Vertical acertou o alvo no caso da invasão da reitoria da UFC.



Completou e corrigiu matéria do jornal, de ontem, que apontamos aqui no post Invadam o DCE

Chamou a ação pelo nome ("invadiu") e divulgou os benefícios que a UFC terá com a adesão ao programa.


A respeito do assunto, tenho recebido emails. Um deles dá conta de pequeno mal-estar entre os estudantes. Sobre a "agressão" , um colega do mesmo curso (Enfermagem) da agredida teria dito que "era só uma espinha que tinha estourado". Já não é uma questão de demagogia, mas dermatologia.


A "agressão" é um certo tipo de fetiche do movimento, troféu de guerra a ser exibido para a mídia, as vítimas da prepotência do sistema. Mais velho que o dilúvio. Por isso, logo aparecem personagens e idéias do mesmo tempo: Rosa da Fonseca e Cia, a cúpula do Psol - João Alfredo, Roseno, etc - todos a se solidarizar com as pequenas desgraças e tirar ganho político.


A garotada que não conseguiu conquistar o DCE (PSTU/Psol) tenta ganhar espaço político, mesmo em cima de desgracinhas.


O Reuni quer que as universidades ampliem as oportunidades de acesso ao ensino superior. Ficar contra isso é contra-senso.


E não dá para ficar brincando de invadir prédio para chamar atenção, principalmente de causas menos nobres. Que venha a eficiência nas universidades.


PS - Os jornais publicarão o resultado do exame para saber se a universitária sofreu lesão?

Picada

Cópia de um post do blog de Lúcio Alcântara, espetando:

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O rouba-página

O anúncio "rouba-página" é criação de publicitários. A idéia é não ocupar a página toda, forçando o jornal a colocar uma matéria na página para aumentar a atração. Contém risco, porém, como o de hoje no anúncio da Parmalat. Numa página de esporte, o risco seria ínfimo. Neste caso, fatal.

Com a denúncia de adulteração do leite de produtores que seriam um dos fornecedores da Parmalat, a empresa se apressou a acalmar seu público. A manchete da página dá encontrão. Com caixa alta fala em CAUTELA EM ITU.


Para quem não leu matéria, para saber que se tatava do jogo do Fortaleza contra o Ituano, deu a seguinte impressão: a Parmalat diz que seu leite é confiável, mas é bom ter cautela [isto é, compre outra marca].


Outra leitura apressada:
A Parmalat diz que seu leite é confiável, porém há algo em Itu que merece cautela [melhor não consumir esse tipo de leite].
Falta de sensibilidade do editor ou vingança?

Invadam o DCE


Foto de Fco Fontenele retrata bagunça na reitoria da UFC, com a invasão de estudantes, na p.5 do Povo.


Não sei se já repararam, não há mais invasão. Os estudantes invadiram a reitoria da UFC, mas os jornais transformaram em "ocupação".

Povo

Diário

Qual mesmo o motivo da invasão da reitoria feita pelos alunos? A matéria diz que é por causa da reunião que se decidiu por aderir ao Reuni, um programa do governo federal.Mas o que é mesmo o Reuni? Povo e Diário tentam explicar, mas não passam da linguagem publicitária que lançou o programa. Não está dito nos jornais, mas poderia ser resumido assim: o governo promete injetar mais recursos nas universidades desde que elas se comprometam com algumas metas, como aumento do número de vagas, menor repetência e evasão, e aumento da aprovação, entre outros.

O chato desta peça (imagem ao lado) do Povo é que, a despeito de dar mais informação, deixa mais dúvida neste trecho final do texto:

Mas algumas questões referentes ao projeto têm causado polêmica e manifestações em diversas unidades do Brasil.

Faltou dizer que questões são essas.

Numa outra peça, O Povo ficou ao lado do coitadinho. No caso, a coitadinha, que "acabou sendo agredida durante empurra-empurra", pelos seguranças. Eis... Com todo respeito à universitária, não justifica a ingenuidade do repórter. Os alunos não estavam "tentando entrar na reunião do Consuni". Clareza: estavam tentando invadir. Os seguranças estavam lá para, entre outras coisas, impedir a invasão despropositada. Só uma provocação: pela foto acima, você acha que houve realmente um ferimento sério? E, ironia, é uma estudante de Enfermagem. Sou leigo.

As invasões estão se repetindo. Os estudantes provocam e esperam a reação para transformar a agressão numa peça de marketing, para ganhar visibilidade - vista com muita simpatia nas redações.

INVADIR O DCE

Uma questão importante não foi tocada pelos repórteres: como se posiciona o DCE da UFC? Soube que não concorda com a invasão ( tampouco com a agressão a estudantes) e avalizou a decisão do Consuni em aderir ao Reuni. Afinal, há representação de estudantes (cinco) no Conselho.

Parece mais uma briguinha de tendências do movimento estudantil, numa disputa de território. Neste caso, que invadam o DCE, pois não?

A UFC publicou uma nota nos jornais, numa diagramação que não convida à leitura, só para quem está muito interessado mesmo:


Das duas matérias, O Povo só foi melhor na foto. Leia as duas:

Povo: Alunos ocupam reitoria da UFC

Diário: Estudantes ocupam Reitoria da UFC

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Imagens da vergonha

Povo e Diário trouxeram imagens da seca na capa, destaque para o Povo, com foto de Sebastião Bisneto.



O Diário trouxe foto de Alex Pimentel na capa, mas a melhor é esta do caderno Regional. Jumentos, canecos, baldes e funis para buscar água. Achava que era uma imagem de um Ceará distante no tempo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Pior que o soneto

A emenda que o deputado Nelson Martins quis fazer à mensagem do Governo saiu mesmo pior que o soneto. A confusão provocada na Assembléia contaminou a matéria do Povo sobre o tema na p.18. Começou com a falta de crase logo no título:




Das boas coisas do Povo, estão as peças explicativas para entender o contexto da notícia, mas esta ficou devendo. O repórter informou que o deputado Nelson Martins, avermelhado, pediu para que as declarações de Adahil Barreto fossem registradas em ata. E arrematou: "o registro pode servir para uma futura representação contra o deputado do PR.

Agora, me diga aí: você não ficou curioso para saber quais foram as declarações? Ou ficou furioso pela omissão?

Você lê a matéria aqui Emenda de líder a mensagem do Governo provoca polêmica

Sem crédito


TILÁPIA

Foto do dia, na capa do Diário, é do... O Diário não deu o crédito do fotógrafo.

Espelho meu

O Diário está evoluindo. Corrigiu na Autocrítica uma palavra grafada errada na capa de ontem, comentada aqui no post Espelho-d´água. Mas voltou a escrever errado na p.10. Lá, só foi corrigido um dos erros ( a falta do apóstrofo). Falta o hífen tanto no texto da matéria quanto da legenda.

...retirada de objetos despejados dentro do espelho d´água

Tropa de Elite (Trailer)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tropa de Elite


A coluna Crítica (Diário) veiculada aos domingos, no Zoeira, sob o título “Mundo cão País afora...”, analisou o Tropa de Elite. Viu muitas coisas no filme, mas, apesar de achar péssima higiene mental, precisa rever a ação dos caveiras. Pois deixou de ver algumas coisas. Imagino que o filme lhe causou incômodo, mal-estar, e o fez menos atento do que comumente.

Encadeou umas imprecisões a partir deste trecho:

Fez boa ligação entre o caso do estudante negro (um policial infiltrado) e a estagiária de uma ONG.

O policial negro não era infiltrado, não estava em missão. Ele cursava Direito numa faculdade de gente rica e omitira sua condição profissional. Não é bem uma relação entre um estudante e uma estagiária de uma ONG. É uma relação entre dois estudantes de Direito, ela militante de uma ONG que atua na favela.

Capitão Nascimento com sua HK MP-5

No parágrafo seguinte, um cochilo:

Aqui insere a crítica velada sobre o consumo de drogas no seio da classe média.

É um dos destaques do filme a crítica aos consumidores de drogas (coca e maconha). Há um discurso sobre isso, são tidos como financiadores do narcotráfico. E isso é repetido várias vezes, na narração do capitão Nascimento, na cena da tortura, fala nas crianças perdidas para o tráfico cada vez que um playboy fecha um baseado, na cena da passeata, de forma contundente. Uma discussão que o filme teve coragem de fazer. Apontar a contradição: os viciados da zona sul, financiadores da violência, fazem passeata pela paz.

Teve mais esta, ao falar de imagens-significantes:

A morte horrível do traficante queimado vivo dentro de um “casaco” de pneus.

Na verdade, traficantes eram os carrascos, não a vítima que ardeu na fogueira.

A análise foi muito boa, logo nas primeiras linhas ao afastar a pecha que ressentidos querem impingir ao filme, fascista. Bravo!

Além do que foi tratado na crítica, acho que está faltando alguém analisar o aspecto militar, as táticas, a verossimilhança até nos detalhes.

O filme faz pensar. Seria, de longe, o melhor representante do Brasil no Oscar. O público de Hollywood entenderá bem a linguagem do Tropa de Elite.


Leia a crítica na íntegra Mundo cão País afora...

Repercussão

A matéria de capa de domingo do Povo deu o que falar não só aqui. O blog do Wanfil também comentou no aspecto mais político. Vale a pena ler o post que fala sobre o tema: Quem aposta na crise entre os Poderes?


Recebi novo email do editor adjunto Érico Firmo, carinhoso, reconhecendo alguns erros e louvando o debate. O email foi para consumo interno. Cito-o mais uma vez para também louvar sua disposição e abertura ao debate, coisa inconcebível em outros veículos locais.

Agradeço ainda as palavras elogiosas de Wanderley Filho, transcritas abaixo.

Espelho-d´água

Foto do dia, de José Leomar, na capa do Diário. O problema foi a legenda, tropeçou na língua:

Os espelhos dágua do Palácio da Abolição...
Espelho-d'água é uma palavra só, ligada por hífen e com apóstrofo.



segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Pipa



Foto do dia, de Talita Rocha, na capa do Povo.

Fofoca


O Diário publicou essa nota no cabeçalho da p.3, sem dar detalhes básicos da informação. Assemelha-se à fofoca.

Engano

A Comunicado (Diário), ao tentar fazer análise política, abre a coluna assim "Repare: todos - sim, todos - os pré-candidatos à Prefeitura submergiram". No título, pergunta: Até quando?


Má sorte do autor. Pois o pré-candidato Moroni Torgan emergiu (se é que havia submergido) logo hoje no Povo.

A abertura do repórter do Povo até parece um desmentido à Comunicado:

Engana-se quem pensa que Moroni Torgan está deixando o tempo passar. Teve um fim de semana intenso.

Você lê a matéria aqui Moroni articula alianças e visita bairros

domingo, 21 de outubro de 2007

Debate

Em resposta ao post Deu a louca no Povo, recebi um email muito educado, com a versão do editor. Dividi o texto em blocos para dialogar.


Caro André,
sou Érico Firmo, editor-adjunto do O POVO, quem editou a matéria. Saudabilíssimo o debate público. Acho que nada interessa mais a um jornalista que alguém que leia e pense sobre o que produziu. Dentro desse espírito de debate, vamos lá: você avalia que o Judiciário não fez reforma política. Avalio que fez, sim. Não só eu. Os magistrados, como Marco Aurélio Mello, fizeram afirmações do mesmo teor. O governador José Serra, Arlindo Chinaglia, Tião Viana, um monte de cientistas políticos.

Duvido que eles achem mesmo isso, pode ser uma força de expressão. A reforma não pode se restringir a um item, a fidelidade partidária. Ponto. O Judiciário não legisla. O STF, além do foro privilegiado, tem a função de arbitrar sobre questões constitucionais.
Foram os partidos que queriam segurar seu rebanho para enfrentar o assédio sedutor do governo os primeiros a recorrer ao STF em forma de consulta. Sobre as leis existentes, os magistrados arbitraram que está na Constituição o principio da fidelidade partidária. Unanimidade. Com o novo cenário, o Legislativo reage para legislar. É o jogo democrático, não é crise, não é reforma. Havia uma omissão, agora uma exacerbação.

Enfim. Uma polêmica e opiniões divergentes, que estão retratadas nas páginas do O POVO, diga-se. O POVO não vem com uma versão e apresenta como definitiva. A matéria tem um olhar editorial, sim. Talvez para você, que não concorda, tenha forçado a barra. Mas é um debate da ordem do dia - basta dar uma passeada pela imprensa nacional. E não podes nos acusar de ter escondido o contraditório.
O Povo é um bom jornal porque se expõe ao debate, às vezes até de forma vulnerável. É claro que houve mais de uma versão. O problema foi forçar a barra, mesmo para uma leitura apressada, como nestes destaques. Começa na manchete, de meia página, com impacto visual:
Conflito de interesses
O texto da chamada começa forte:
Brasil vive uma bagunça generalizada entre os papéis desempenhados pelos três poderes.

Bagunça generalizada!!!Não é forçar a barra? Agora, na p. 21:

A clássica divisão dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário - nunca foi tão mal-tratada (sic) pelas instituições brasileiras.
Isto é, nunca na história deste país a divisão de poderes foi tão maltratada. Exagerou, né?
Continuemos com o email:

Aliás, sobre o suposto fato de o STF apenas interpretar o texto legal, lembro declaração dada há duas semanas pelo próprio já citado Marco Aurélio Mello: se o STF só interpretou o texto legal, significa que a Constituição só começou a valer em 27 de março. Melo disse isso no contexto de quem defendeu a cassação dos mandatos de quem trocou de partido em qualquer data, posto que a Constituição já estava em vigor, e não houve criação de norma constitucional.
Ainda bem que a fala do ministro foi contextualizada. Do contrário, seria estranho. Para ele, a Constituição é clara. Portanto, poderiam os partidos pedir o mandato de volta de quem houvesse mudado de legenda em qualquer tempo. A maioria achou que estava na Constituição, mas não de forma clara e se decidiu por uma data a partir de sua decisão. Criou jurisprudência.
Adiante:

Quanto ao julgamento dos pares serem funções do Judiciário, essa discussão também está posta, meu caro. Quero creditar a avaliação a uma leitura rápida sua. Observe o quadro da página 25, que aborda, com base em obra do professor Pedro Lenza, divide as funções dos poderes entre as típicas e as atípicas. CPI e julgamento são funções do Legislativo. Mas não sua função típica. Você pode discordar da avaliação, mas não que a discussão é despropositada.
Aqui, um equívoco. O que o repórter disse e foi destacado na edição: "as instruções processuais e julgamentos, métier da Justiça, têm sido..." Eis o ponto. O aposto diz “métier da Justiça” e não "atividade atípica do Legislativo”. Outro equívoco é sobre o quadro, dito como na p. 25, baseado em Pedro Lenza. No exemplar que eu tenho, o quadro é na página 28. Lá, CPI e julgamentos não constam como atividades atípicas. Está igual a este:

Típicas ou atípicas, são funções institucionais de cada Poder. Sem crise. Voltemos ao email

Bom, você pode não ter gostado do "verniz intelectual". Achei original e curioso saber que o Brasil é citado em "O espírito das leis". Discussão estilística, em cujo mérito deixo para cada juízo. Você diz, porém que o repórter não revela qual a tese do livro da qual o Brasil continua distante. Quero, novamente, creditar a leitura rápida. Está lá: "a clássica divisão dos três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - traço principal do pensamento do filósofo". E, a despeito de louvar a abertura ao debate, a adjetivação "doidice" para classificar o material me parece pesada em excesso.
Curioso certamente. É a terceira vez que é falado sobre minha leitura apressa. Em homenagem a essa repetição, voltei ao jornal. Tive a mesma conclusão, leitura apressada. Sobre Montesquieu. Dizer que a tese de O Espírito da Lei é “a clássica divisão dos três poderes” é reduzir a importância da obra. Ela é composta de seis partes, cada uma com vários livros totalizando 27, com estudos divididos em vários capítulos, principalmente a respeito da lei que dependeria dos princípios e natureza do governo.
Seu texto foi a base para a Constituição que adveio com a Revolução Francesa, é a âncora do constitucionalismo. É fundador da Ciência Política. E não era reducionista. A divisão de poderes talvez seja o tema mais famoso, o tal verniz, não o “principal traço do autor”. O cara foi muito mais que isso. Leitura apressada. Adiante.

Quanto ao Senado ter cumprido sua missão, de Legislar, é fato. Mas a questão que o autor coloca é outra: a Casa, só após a "porta arrombada", votou uma matéria que há muito lá tramita. E, olha, você pode não gostar da matéria - e não gostou, percebe-se. Outra é dizer que o jornalista está distante de seu papel. Não creio.
Talvez seja bom explicar. Nada contra o jornalista. Distante, a meu ver, porque exagera, cria uma tese e tenta sustentá-la até fim, para especular sobre crise iminente ou existente. A discussão é pertinente.

No mais, quero saudar seu trabalho, bem-vindo e necessário para uma função pública como a de jornalista. Não quero ser mal interpretado. É por louvar a disposição e a provocação ao debate que estou entrando na discussão, que considero salutar.

Abraço grande,
Érico Firmo
Editor-adjunto do Núcleo de Conjuntura Jornal O POVO


Retribuo o abraço e louvo a postura do editor, que não é diferente dos demais profissionais do jornal com quem tenho mantido contato por email. A exemplo do ombudsman, cujo email não publiquei por não ter sido autorizado. Neste, senti-me autorizado pelo remetente que se dispôs ao debate público.

Quanto à matéria, tem seu valor, o que estranhei foi o forçar a barra, na minha opinião. Continuo achando que não há crise, que os poderes estão cumprindo seu papel e até de forma mais evoluída do que a clássica divisão de Montesquieu. E precisa evoluir. Também acho que as opções editoriais e gráficas denotam que O Povo adotou a tese da crise. As personalidades ouvidas não falam em crise.

Fechemos com Monstesquieu: "só o poder freia o poder".

Deu a louca no Povo

O Povo forçou a barra para dar impacto e consistência ao tema da manchete do jornal. Tentou adaptar a realidade a uma pauta concebida na redação. A matéria insinua que os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) estariam em crise, um interferindo na função do outro. É uma leitura simplória.

O equívoco começou na capa com o seguinte texto:

INVERSÃO DE PAPÉIS - O Brasil vive uma bagunça generalizada entre os papéis dos três poderes. Enquanto o Congresso Nacional assistia, o Judiciário deu início à reforma política.
Ora, o Judiciário não fez reforma política. Apenas interpretou o texto legal. O exagero estaria talvez com o Executivo, com seu pendor legislativo através das incontáveis medidas provisórias.

O equívoco continua no título que abre a matéria na p.21 (Poderes em crise de identidade) e se prolonga na linha explicativa:

FREUD EXPLICA - Judiciário fazendo reforma política, Executivo legislando por medidas provisórias e Congresso Nacional transformado em tribunal para julgar os próprios parlamentares

Ora, CPI e julgamento de seus pares são funções do Legislativo, fazem parte do regimento. Onde estaria a crise de identidade?

O jornalista usou todo o texto da p.21 para construir um nariz-de-cera, de acordo com o jargão jornalístico. Juntou alhos com bugalhos, principalmente quando quis dar verniz intelectual à sua peça, citando Montesquieu:

Em sua obra-prima, publicada em 1748, o aristocrata Charles-Louis de Secondat (1689-1755) cita duas vezes o Brasil. A primeira é uma rápida menção à enorme quantidade de ouro que os espanhóis encontraram por aqui. A segunda, quando o francês detalha algumas rotas das grandes navegações. Mas nem de longe nossa história está na idéia central da obra que marcaria a Ciência Política mundial. Quase 260 anos depois, quase nada mudou.
É o nariz-de-cera teaser. Nada revela, suspense. E ainda taca este quase-quase (quase 260 anos depois, quase nada mudou). É mesmo? Quase nada mudou? Onde está então a enorme quantidade de ouro? Poderia ter começado melhor, não?

O Brasil continua distante da tese defendida no livro O Espírito das Leis, do "Barão de Montesquieu", nome que imortalizaria o autor. Pelo contrário. Atualmente, a clássica divisão dos três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - traço principal do pensamento do filósofo - nunca foi tão mal-tratada pelas instituições brasileiras.
Olha a doidice. O repórter diz que o Brasil continua distante da tese no livro, mas não diz qual a tese. E complementa: "Pelo contrário". Ora, o contrário de distante é próximo. É uma sentença desmentindo a outra, num pensamento trôpego. E ainda maltrata a língua colocando este hífen indevidamente. O samba do crioulo doido continua:

Um bom exemplo disso - ou um ruim, dependendo do ponto de vista -, aconteceu na última quarta-feira, dia 17, na Capital da República. A toque de caixa, o Senado Federal aprovou mudanças na Constituição Federal, abrindo caminho para, finalmente, estabelecer a fidelidade partidária. A decisão foi uma clara resposta ao que tinha acontecido, um dia antes, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

É um exemplo ruim. O que o Senado fez foi legislar, cumpriu sua função. O jornalista é que parece estar distante da sua.

Apesar de não ter o ato de legislar como função essencial, a cúpula do Judiciário nacional vinha assumindo a dianteira na reforma política no País. O episódio não deixou dúvidas: um mal-estar institucional foi instalado em Brasília.
Como já disse, o Judiciário não faz reforma política. Interpretou o que há na Constituição sobre fidelidade partidária. Só isso, cumpriu também sua função. Questionado, não se omitiu. E não vi nenhum mal-estar institucional. Mas reações pessoais, principalmente dos que poderiam ser prejudicados com a medida. Agora, atente para o exagero.

De impacto e repercussões sem precedentes, o choque entre as funções do Congresso e Judiciário não é um caso isolado.

Dizer que há um choque entre as funções do Congresso e Judiciário já é uma licença poética, mas dizer que esse "choque" tem impacto e repercussão sem precedente já é viagem. Chocou-se contra a sobriedade. Tanto é que a exagerada expressão não está na versão impressa, só na eletrônica. Veja as duas versões.

Na internet:

(para conferir, clique aqui)

Na versão impressa, saiu assim:

Os três personagens aí do lado servem também para simbolizar uma união pelo equívoco. Não foi apenas do repórter, mas também do editor e de outro superior que autorizou a matéria. Quem editou concordou com o teor e deu aval com a escolha da seguinte ventilação do texto.


Viu só? Quem começou com Montesquieu tinha que meter um vocábulo francês. Métier não existe nos principais dicionários de português (não seria bom traduzir?). Mas isso é só uma casquinha do verniz cultural. O pior é o que ele diz. Gente, prestenção! Há duas inverdades numa só frase - escolhida para ventilar o texto.

Primeiro, fazem parte do mister do Congresso as instruções processuais e julgamentos de seus integrantes. E isso não é de agora. A outra é que não têm sido as principais atividades legislativas. Talvez as de maior visibilidade na mídia.

Para o rumo certo apontou o governador Cid Gomes na p.25:

Hoje, alguns enxergam crise institucional nas relações entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário...

É certo que há exageros, mas não crise, porque estes conflitos são parte do jogo democrático e do aperfeiçoamento do exercício político de nosso País;

Leia o artigo aqui "Poder constitui um freio para o poder"

Vitória do Fortaleza

DIÁRIO POÉTICO
O Diário fez poesia na capa ao anunciar o resultado dos jogos de Fortaleza e Ceará.
Note que é um verso decassílabo (meio frouxo, vá lá):
LEÃO VENCE, VOVÔ EMPATA FORA

PATA FORA
Aliteração é coisa de poesia, porém este exemplo é também cacofonia, o que revelaria o nível do verso:
Vovô empata fora

Seria esse "pata fora" o jogador expulso, que agiu tão bobamente, como bicho de patas?



sábado, 20 de outubro de 2007

Só vale morrer?

Faltou talento ao autor da manchete da p.34 do Povo:

Benazir diz que "morre" com paquistaneses

Primeiro, as aspas numa só palavra lhe tiram o sentido denotativo. Às vezes, soa como uma ironia, o contrário do que quer dizer. E Benazir não disse uma coisa nem outra. Atentem para o contexto. Depois que foi alvo e escapou ilesa de um atentado, ela demonstrou que não se deixa intimidar. Ela retornava de exílio e afirmou que ficaria em seu país para "viver ou morrer" com os paquistaneses.

O motivo da opção mórbida, não sei. Mas sei que a manchete é equivocada, pois não está de acordo com o texto da matéria, confunde o leitor.

Se ela acaba de sobreviver a um atentado, qual o motivo de não usar de forma positiva?
Benazir diz que "vive" com paquistaneses

E as aspas aí não seriam tão sem sentido. Serviriam para enfatizar o viver, mesmo sob atentados.

Povo x Diário

Povo e Diário batem cabeça com informações contraditórias. Um ou outro está errado em matéria sobre a execução de uma professora no Mondubim. Para O Povo, o Ctafor não ajudou.

Veja o que diz O Povo (p.7):

As imagens da câmera do CTAFor não poderão ajudar a Polícia no esclarecimento da morte da professora Antônia Maria Lima... No momento em que a professora foi alvejada com um tiro na cabeça pelo garupeiro de uma moto, a câmera estava voltada para o outro lado do cruzamento.

Bem diferente diz o Diário (p.16):

As cenas do assassinato foram gravadas pelas câmeras do Ctafor. As imagens mostram que um homem de bicicleta foi o autor do disparo fatal na cabeça da professora.

A matéria do Povo, aqui: Sem pistas sobre o assassino de professora
A do Diário, aqui: Imagens mostram um ciclista atirando

Chamada errada


O Povo, na p.2, disse que o editorial seria sobre tansplante. Mas foi sobre o desabamento de teto de escola em Beberibe.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Troca-troca no Povo



Legenda de um, foto de outro. Na p. 2 do Povo. Clique na imagem para ampliar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sindicâncias dos jornalistas

Resultado do trabalho do Sindicato e da ACI sobre fraude no concurso da ACI:

- Só havia um vencedor: O Povo
- O então editor do Diário e vice-presidente da ACI fraudou o resultado para beneficiar o jornal que lhe pagava o salário.
- A ingerência do fraudador era tamanha que levou consigo, cúmplices, o ex e o futuro ex-presidente da ACI, manchando o nome da instituição e também do Diário.

Desta vez, o Diário não publicou resposta dos envolvidos. Nem mesmo a opinião do diretor-editor, que havia se solidarizado com seus colegas de redação, de "prêmios cassados".

Dente místico


Foto do dia, de J. Luís (Diário), vencedora de prêmio. A legenda é que atrapalhou:

Foto publicada procurou desmistificar a idéia de que tudo relacionado ao dente é doloroso

Doloroso é esse "desmistificar" por desmitificar. Afinal, cuidar dos dentes não é coisa doutro mundo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Deputado Neno

Marmeneeeno!!!
Olha o colunista se gabando de ter recusado uma oferta para concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa, com "reais chances de vitória". Aí, mente! O colunista não revelou o que seriam "reais chances".

No seu discurso, diz e reforça que prefere continuar como jornalista, muito superior a deputados. Não com essas palavras. É tradução livre. Todo o comentário, além de provocar, cordialmente, o colunista mais provocador, conhecido pela sutileza com que inocula seu veNeno (bom sentido), tem outra função. É... para questionar:

Os jornalistas são melhores que os políticos?

Viés de release

Tentei ler o artigo semanal de Flávio Paiva (Diário). Tropecei logo no primeiro parágrafo e perdi o fôlego. O motivo, um viés:

Ao criar um conjunto de oportunidades para as pessoas se verem mais vezes pelo viés da dignidade e da grandeza das suas próprias manifestações culturais, o programa Mais Cultura, lançado pelo presidente Lula na quinta-feira (4) passada, no Teatro Nacional, em Brasília, revela claramente a visão do governo federal de que as políticas públicas...

Com todo respeito, o texto de hoje cheira a release. E esse "viés" é intragável. Seu estilo é outro, ou não?

Curioso? leia o artigo A cultura onde a vida acontece

Música

Depois da frase do Renan, sugestão de música:

Eu quero me trepar no pé de coco
(Messias Holanda)

Alguém tem o áudio?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Varal

Peguei no Noblat.

Vergonha de Salviano

Mais um motivo para os partidários de Manoel Salviano acharem que o Diário, ou alguém lá, quer ver o seu fim. No cabeçalho da p.3, é a primeira vez que eu vejo o deputado Perboyre Diógenes com destaque, se não me falha a memória. Está ali para falar mal de Salviano. Veja aí:




Detalhe é que Perboyre não pertence ao PSDB ou PMDB, é do PSL. Acho que esteve lá só para ficar morto de vergonha. Curiosidade: o deputado procurou o repórter, ou o repórter procurou o deputado para essa declaração?

Irritadinho

Foto do dia, de Kid Júnior, na capa do Diário. Flagrante na Assembléia mostra o deputado Augustinho Moreira sendo segurado quando tentava partir para cima do deputado Carlomano Marques. O assessor deste quase acerta um tapa em Moreira. E o decoro? Ou será que o deputado Augustinho, como insinuou Carlomano, não sabe mesmo ler?

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Salvem Salviano

Se eu fosse partidário do deputado Manoel Salviano, diria que o Diário está em campanha franca para vê-lo cassado. Fogo cerrado nos três últimos dias. Será que amanhã tem mais?

Tudo começou com uma estranheza jornalística, que só virou suspeita com o tríduo. Numa matéria da p. 3, o editor fez questão de destacar a ameaça ao mandato de Manoel Salviano.

Quando digo "fez questão" não é apenas o lugar-comum do reforço. Esse destaque é um recurso jornalístico gráfico chamado ventilação, para arejar a página (aprendi bem, mestre?). O texto em destaque deve estar conectado com a matéria. Não há, porém, uma única linha sequer sobre Salviano. Só na ventilação. Então, ele fez questão.

O mais estranho é que no mesmo dia, três páginas depois, a editoria de Nacional usou também um recurso gráfico sobre o mesmo assunto, e mais específico: com a lista dos ameaçados. Como podem ver na imagem ao lado, não consta Manoel Salviano. No mesmo dia, fizemos um comentário no post Editorias divergentes.


No dia seguinte, um texto opinativo assinado pelo editor de Política, com direito a foto de Salviano (indiretamente chamado de "trânsfuga").

O redator exigia uma posição rigorosa dos dois partidos, cheguei a dizer no post Escrita ruim que ele queria ver sangue. E deitou falação jurídica, instigando a punição.

Hoje, voltou ao assunto, sempre com destaque. Desta vez, com o presidente regional do PMDB, falando duro, para dizer em manchete que a situação de Salviano é complicada. Será que foi estimulado pelo texto ou já estava pronto, e a cantilena do jornalista serviu apenas de escada para uma frase preparada?

Na verdade, Salviano pode até ficar no PMDB e não ser punido. Ele só perde o mandato se o partido pedir isso na Justiça. E esta sanha de cassação também é estranha. O mandato é mesmo é do povo, em nome de quem ele é exercido. Se o STF entendeu que pertence ao partido, é lógico que só vale a partir daí. E a decisão é histórica não por propiciar uma caça às bruxas, mas para ordenar a bagunça. O troca-troca, inapelavelmente, foi restringido.

Uma frase que passou despercebida naquele texto dominical do editor, hoje, parece um ato falho.

Dentre muitos outros, aqui no Ceará, para nos fixarmos em apenas um caso, a situação criada pelo deputado federal Manoel Salviano

É um caso de fixação.

Novos blogs

Mais inteligência na blogosfera cearense.
Norton, antes ele do que vírus, estréia seu blog de idéias grandes e letras minúsculas. Também leio com freqüência o blog do Wanfil e o Liberdade Digital, muito bom. Os três, adicionados na minha lista.

domingo, 7 de outubro de 2007

Boa noite

FLU 2 x 0 FLA

Foto Dali

Reprodução do quadro "O mel é mais doce que o sangue", de Salvador Dali, no caderno Cultura (Diário).