domingo, 2 de março de 2008

Ombudsman cabotino

O adjetivo cabotino, usado pelo ombudsman para qualificar o vereador Paulo Mindello, seria mais apropriado a ele mesmo. O ombudsman foi o principal tema da coluna do ombudsman. Isso sim pode ser caracterizado cabotinismo. Cabotino é o sujeito vaidoso que se vangloria de suas qualidade reais ou fictícias e chama atenção para si. Já o vereador seria mesmo cabotino se estivesse propondo seu próprio nome para uma rua, praça, avenida, etc.

O vereador acusou o ombudsman de ter extrapolado de suas funções ao criticar de forma desrespeitosa um artigo em que defende a mudança de nome de uma das principais avenidas de Fortaleza (Beira-Mar) para Dom Aloísio Lorscheider.

O vereador parece entender mais da função do ombudsman do que o ombudsman entender a de vereador. Uma das prerrogativas do vereador é propor nomes para logradouros. A homenagem a Dom Aloísio é merecedora de elogios. O ombudsman pode discordar. Mas os argumentos são pobres. Daqui a pouco, lança uma campanha para voltar a Cachorra Magra a rua Marechal Deodoro, para Estados Unidos a Virgílio Távora.

A função primeira do ombudsman é criticar seu próprio jornal, no ângulo do leitor. Seria o defensor do cliente. No caso específico, o jornalista foi defensor de seu ponto de vista. A primeira distorção foi dar título à coluna com o adjetivo desrespeitoso. A segunda foi trazer de novo, como manchete, o assunto. Historicamente, as polêmicas travadas por ombudsman foram sempre com seus colegas, não com articulistas externos.

Em sua defesa, o ombudsman sacou o parágrafo segundo, alínea c, do regimento do ombudsman: "escrever semanalmente coluna pública para o jornal, analisando os fatos que considerar mais relevantes da semana, do O Povo, de qualquer outro meio de comunicação do Ceará ou não".

Ora, essa alínea c serve para qualquer coluna, não é mesmo? Mas a do ombudsman é bem específica, tanto que pouquíssimos jornais a publicam. O Povo seguiu o exemplo da Folha. E esta é bem mais clara quanto a coluna:

Realizar a crítica interna do jornal e, uma vez por semana, aos domingos, produzir uma coluna de comentários críticos sobre os meios de comunicação - na qual a Folha deveria ser um dos alvos privilegiados.

É claro que o mais relevante nesta semana foi a "manchete infeliz" e eleitoreira do Povo: "Lula faz defesa de Luizianne". Mas este comentário o ombudsman pôs lá embaixo, invertendo a hierarquia. Ele se fez o assunto principal.

Além do mais, o ombudsman é "eleito" pelo dono do jornal. O dono do mandato do vereador é o povo. O ombudsman poderia perfeitamente escrever um artigo e publicá-lo na página de opinião e combater de forma até mais dura a iniciativa do vereador. Em sua própria coluna, acredito seja desvio de função.

Também é uma grande bobagem essa história de ação judicial contra o jornalista.

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