TAF dá um xeque no Povo
Havia mais irregularidade na capa do Povo do dia primeiro, além daquelas quatro que apontei aqui no mesmo dia no post Meia verdade no Povo.
Havia problema mais grave, a manchete.
A matéria comete irregularidade. Fui ler o texto, curioso com a resposta da TAF.
Ela pôs em xeque a credibilidade do jornal. Os dois sobrevivem de credibilidade, a empresa aérea muito mais. Em nota nos jornais, menos no Povo, a TAF diz que O Povo "abriu manchete pondo em cheque o respeito e a credibilidade" da empresa.
A despeito do erro ortográfico ou fina ironia, a TAF rebate ponto por ponto a matéria e desmente no principal: o helicóptero não estava irregular, ao contrário da grave acusação feita em manchete pelo jornal.
À matéria.
O texto diz que o helicóptero estava irregular, e fundamenta:"O Povo apurou que a aeronave alugada pela TAF Linhas Aéreas para o governo não poderia ser utilizada em aviação comercial" e estava com a manutenção vencida. E ainda que a empresa poderia ser penalizada (sic).
Uma acusação desta magnitude não pode se sustentar em "apurou". Carece de uma posição oficial. Ao contrário, parece a versão de um concorrente, pois logo o texto vai informar que o governo está insatisfeito e vai abrir licitação para se livrar da TAF. Espere só pra ver.
E quanto à informação de que "a empresa pode ser penalizada pela Anac" se baseia neste trecho.
O Povo entrou em contato com a Anac para saber das penalidades às quais a empresa que realiza este tipo de vôo irregular estaria sujeita. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, se ficar comprovada a irregularidade, a empresa pode ser notificada e multada.
Uma resposta correta e genérica para uma pergunta genérica e incorreta. Se houve o contato com a Anac, as perguntas cruciais são outras. Essa seria só a sobremesa. Por que não perguntou ao órgão se a empresa estava irregular, se era possível uso do helicóptero para fins particulares naquele caso? Não foi esclareciddo quem deu essas informações, ficou a penumbra reclamando luz neon.
A única resposta a uma pergunta do Povo, serve para qualquer empresa em situação irregular. A pergunta é: estava irregular?
Prestem atenção no caráter pedagógico do que vem aí.
"Assim como um carro particular não pode ser usado como táxi sem a devida autorização, uma aeronave particular não pode ser usada como táxi aéreo", explicou ao O Povo, uma fonte ligada à prestação de serviços do gênero.
Fonte ligada a prestação de serviço do gênero é outro nome para concorrente. Isto é, há suspeita de que a fonte do jornal esteja querendo usar o veículo para atacar adversário comercial. Neste caso, maior o cuidado. E mais se impõe a versão do outro lado, ausente na matéria. Faltou cuidado, talvez a pressa do furo. Um órgão oficial teria que estar respaldando o matéria, não fontes do ramo e apuração sem explicação. Ficou devendo.
O texto vai num crescendo, aumenta a gravidade. Boa técnica.
Além do problema em relação à categoria do uso da aeronave, o helicóptero alugado pelo governador apresentava outra grave irregularidade. Segundo informações da Anac, o helicóptero teve sua manutenção vencida no dia 27, um dia antes de apresentar o problema no vôo.
Esse pessoal que dá os prazos também precisa ser punido. Dão um prazo fatal, pois um dia depois dele já será causa de incidente.
A nota da TAF diz que fez a manutenção dentro do prazo e que a informação estava no site da Anac.
O Povo, que não ouviu a Anac no tema central da acusação, explica que não foi possível falar com a TAF. A empresa é categórica ao desmentir:" falou sim com o gerente comercial Jurandir Pessoa, além da própria assessoria de comunicação, em e-mail enviado após contato telefônico".
O texto da nota ainda faz um convite:
"tendo em vista a distância entre a sede do jornal e o areoporto Pinto Martins, estação antiga, poderia ter sido visitada pelos insteressados na melhor informação."
É mesmo bem ali.
Houve irresponsabilidde, ingenuidade ou a credibilidade do jornal em cheque.
PS. No site da Anac, a empresa está com a manutenção em dia, conforme quadro abaixo.
3 comentários:
sou piloto e posso afirmar: o jornal O Povo foi certeiro. Divulgou o que já se sabia nos bastidores da aviação. O helicóptero é privado e não poderia ser alugado.
a propósito, houve desdobramentos e a história se complica: a TAF diz que não vai cobrar o vôo. Como assim? Empresas estão dando vôos ao Governo? Por coisa parecida, caiu o Silvinho Land Hover... Depois, apareceu a conversa de que o helicóptero já tinha sido usado pelo governo, com a devida combrança. Quando nao cai, pode cobrar. Quando não cai, cobra? Houve desdobramentos e acho que era importante um posicionamento desse blog.
Não fiz apuração da matéria, não tenho meios. O que vi e deixei claro é que a notícia(uma acusação grave) deveria estar baseada em informação oficial, e o outro lado deveria ter sido ouvido.
Quanto aos "desdobramentos", são posteriores à matéria que analisei. Posso ver e analisar depois. Não digo que a empresa esteja certa, mas, se a informação não se confirmar, terá sofrido um sério prejuízo.
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