O Diário dedicou uma página, com uma bonita arte, para se defender e acusar seu acusador. De quebra, reclama que seus jornalistas estão sendo coagidos. Trouxe a opinião do presidente da OAB e da presidente do Sindicato dos Jornalistas.
Débora Lima fez um forte ataque ao promotor Jarlan Botelho. Foi quase todo o texto. Em defesa mesmo de seus filiados, a presidente do Sindicato dos Jornalistas reservou uma frase:
Se a Imprensa teve acesso à informação, cumpriu seu papel.Desconfio de que seja tão simplista assim. Todo jornalista sabe que há limites, e esse pensamento está expresso em muitas matérias, até mesmo nesta que o promotor diz ter sido determinante para a execução de Ana Bruna. Vejamos. Copiei todo o texto abaixo, para comentá-lo. Se preferir no original, clique
aqui.
INFORMAÇÃO REVELADORAElucidada pistolagem contra um comercianteA morte do comerciante José Valter Portela, 42 anos, que aconteceu no dia 1º de março deste ano, no bairro Siqueira, está esclarecida. O depoimento de uma mulher, que convivia há quatro anos com o ex-soldado da Polícia Militar Ademir Mendes de Paula,Inadvertidamente, a repórter já identificou Ana Bruna para os bandidos
35 anos, morto com oito tiros no último domingo, foi determinante na elucidação da pistolagem do comerciante. “Foi o Ademir quem matou o Valter Portela e, por este crime, recebeu a quantia de R$ 10 mil”, contou a jovem (não identificada por questão de segurança). Essa frase que eu negritei é, como se diz, emblemática. Por isso que eu disse lá em cima que foi inadvertidamente. A repórter tem certeza de que não deve revelar a identidade da testemunha. Achou que bastava não revelar o nome. E foi dando mais pistas.
Ademir era envolvido em crimes de extorsão, assalto e, de acordo com a garota, “matou muita gente por aí”.Ele matou muita gente por aí. Barra pesadíssima e ela sabe de todos.
Segundo a jovem, o ex-PM demonstrava satisfação em matar. “Ele sempre me dizia quando dava certo e fazia questão de assistir às reportagens dos crimes na televisão”. A mulher afirmou, ainda, nunca ter recebido qualquer quantia em dinheiro de Ademir. “O dinheiro que ele recebia por estas coisas desaparecia muito rápido, nem sei como”, lembrou.A garota forneceu à Polícia o nome do mandante do assassinato do comerciante Valter Portela, mas esta informação está sendo mantida em sigilo, a fim de que as investigações possam ser aprofundadas.
Veja bem, a informação é mantida em sigilo. Sabe-se que em alguns casos, é assim que se age. Às vezes, para “que as investigações possam ser aprofundadas”. O caso mais grave é colocar uma vida em risco.
“Ele me contava tudo, eu sabia de muita coisa,
porque a gente se gostava muito e ele confiava em mim. Sabe muito, talvez muito mais do que já tenha dito. Ana Bruna virou uma bomba ambulante. Como os jornalistas gostam de dizer, é nitroglicerina pura.
Mas dizia que se eu o deixasse, ele ia atrás de mim e me matava nem que fosse debaixo da saia da minha mãe”, disse.A garota conversou, ontem de manhã, com os delegados Francisco Alves de Paula, diretor do Departamento de Inteligência Policial (DIP) e Francisco Carlos de Araújo Crisóstomo, superintendente-adjunto da Polícia Civil. No período da tarde, foi ouvida na presença de um promotor de Justiça que acompanha o caso.Está claro que todo jornalista sabe que, em muitos casos, preserva-se a identidade de personagens nas matérias, obrigatoriamente quando há risco de vida, como a própria repórter reconhece expressamente. Então, a frase da sindicalista ficou meio solta, por demais corporativa.
A de hojeAgora alguns trechos da matéria de hoje:
Investigações ainda confusasA testemunha não foi suficientemente protegida pelas autoridades estaduais. E o pior aconteceu: foi eliminada.Mantém acusação contra a omissão do Estado, e está certo, mas não é só isso.
A matéria, ressalte-se, preservou a identidade da testemunha.O repórter tem a mesma crença da repórter. Para preservar a identidade, basta não revelar o nome. Simplório, não?
A seqüência de depoimentos prestados por Ana Bruna, e a gravidade dos fatos por ela revelados, não foram suficientes para que as autoridades competentes tomassem providências no sentido de protegê-la diante de um perigo real de retaliação.De novo, centra fogo nas autoridades. E confessa, o jornal tinha consciência de que estava diante de um "perigo real de retaliação".
O quadro DECLARAÇÕES DE ANA BRUNA diz o que a testemunha fez no dia em que deu entrevista ao Diário: deu depoimento ao delegado Francisco Alves de Paula, diante do promotor Jarlan Botelho, no Departamento de Inteligência Policial (DIP).
Lá pelas tantas, o texto diz (ver matéria coordenada). Diabéisso?
O título da outra matéria da página diz
Apuração gerou a prisão de 9 acusadosO texto diz:
Nove pessoas tiveram...(ver quadro acima).No quadro acima, tem apenas
oito.