quarta-feira, 13 de junho de 2007

Cumpriu seu papel


O Diário dedicou uma página, com uma bonita arte, para se defender e acusar seu acusador. De quebra, reclama que seus jornalistas estão sendo coagidos. Trouxe a opinião do presidente da OAB e da presidente do Sindicato dos Jornalistas.

Débora Lima fez um forte ataque ao promotor Jarlan Botelho. Foi quase todo o texto. Em defesa mesmo de seus filiados, a presidente do Sindicato dos Jornalistas reservou uma frase:

Se a Imprensa teve acesso à informação, cumpriu seu papel.

Desconfio de que seja tão simplista assim. Todo jornalista sabe que há limites, e esse pensamento está expresso em muitas matérias, até mesmo nesta que o promotor diz ter sido determinante para a execução de Ana Bruna. Vejamos. Copiei todo o texto abaixo, para comentá-lo. Se preferir no original, clique aqui.

INFORMAÇÃO REVELADORA
Elucidada pistolagem contra um comerciante

A morte do comerciante José Valter Portela, 42 anos, que aconteceu no dia 1º de março deste ano, no bairro Siqueira, está esclarecida. O depoimento de uma mulher, que convivia há quatro anos com o ex-soldado da Polícia Militar Ademir Mendes de Paula,

Inadvertidamente, a repórter já identificou Ana Bruna para os bandidos

35 anos, morto com oito tiros no último domingo, foi determinante na elucidação da pistolagem do comerciante. “Foi o Ademir quem matou o Valter Portela e, por este crime, recebeu a quantia de R$ 10 mil”, contou a jovem (não identificada por questão de segurança).

Essa frase que eu negritei é, como se diz, emblemática. Por isso que eu disse lá em cima que foi inadvertidamente. A repórter tem certeza de que não deve revelar a identidade da testemunha. Achou que bastava não revelar o nome. E foi dando mais pistas.

Ademir era envolvido em crimes de extorsão, assalto e, de acordo com a garota, “matou muita gente por aí”.

Ele matou muita gente por aí. Barra pesadíssima e ela sabe de todos.

Segundo a jovem, o ex-PM demonstrava satisfação em matar. “Ele sempre me dizia quando dava certo e fazia questão de assistir às reportagens dos crimes na televisão”. A mulher afirmou, ainda, nunca ter recebido qualquer quantia em dinheiro de Ademir. “O dinheiro que ele recebia por estas coisas desaparecia muito rápido, nem sei como”, lembrou.A garota forneceu à Polícia o nome do mandante do assassinato do comerciante Valter Portela, mas esta informação está sendo mantida em sigilo, a fim de que as investigações possam ser aprofundadas.

Veja bem, a informação é mantida em sigilo. Sabe-se que em alguns casos, é assim que se age. Às vezes, para “que as investigações possam ser aprofundadas”. O caso mais grave é colocar uma vida em risco.

“Ele me contava tudo, eu sabia de muita coisa,
porque a gente se gostava muito e ele confiava em mim.


Sabe muito, talvez muito mais do que já tenha dito. Ana Bruna virou uma bomba ambulante. Como os jornalistas gostam de dizer, é nitroglicerina pura.

Mas dizia que se eu o deixasse, ele ia atrás de mim e me matava nem que fosse debaixo da saia da minha mãe”, disse.A garota conversou, ontem de manhã, com os delegados Francisco Alves de Paula, diretor do Departamento de Inteligência Policial (DIP) e Francisco Carlos de Araújo Crisóstomo, superintendente-adjunto da Polícia Civil. No período da tarde, foi ouvida na presença de um promotor de Justiça que acompanha o caso.

Está claro que todo jornalista sabe que, em muitos casos, preserva-se a identidade de personagens nas matérias, obrigatoriamente quando há risco de vida, como a própria repórter reconhece expressamente. Então, a frase da sindicalista ficou meio solta, por demais corporativa.



A de hoje
Agora alguns trechos da matéria de hoje: Investigações ainda confusas

A testemunha não foi suficientemente protegida pelas autoridades estaduais. E o pior aconteceu: foi eliminada.
Mantém acusação contra a omissão do Estado, e está certo, mas não é só isso.

A matéria, ressalte-se, preservou a identidade da testemunha.
O repórter tem a mesma crença da repórter. Para preservar a identidade, basta não revelar o nome. Simplório, não?

A seqüência de depoimentos prestados por Ana Bruna, e a gravidade dos fatos por ela revelados, não foram suficientes para que as autoridades competentes tomassem providências no sentido de protegê-la diante de um perigo real de retaliação.
De novo, centra fogo nas autoridades. E confessa, o jornal tinha consciência de que estava diante de um "perigo real de retaliação".

O quadro DECLARAÇÕES DE ANA BRUNA diz o que a testemunha fez no dia em que deu entrevista ao Diário: deu depoimento ao delegado Francisco Alves de Paula, diante do promotor Jarlan Botelho, no Departamento de Inteligência Policial (DIP).

Lá pelas tantas, o texto diz (ver matéria coordenada). Diabéisso?

O título da outra matéria da página diz
Apuração gerou a prisão de 9 acusados

O texto diz:
Nove pessoas tiveram...(ver quadro acima).
No quadro acima, tem apenas oito.

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