sábado, 16 de junho de 2007

Mais respeito pela mentira


Jabor, no Jornal da Globo de ontem.

Antigamente as tramóias eram mais respeitosas com a opinião pública.
Estamos assistindo a uma aula tragicômica sobre o desequilíbrio político do Brasil: as provas feitas com recibos podres, compradores laranjas, velhos analfabetos, firmas que não existem, bois imaginários, açougues fantasmas...

É fascinante o deslavamento de tudo que é dito, o esfarrapamento das desculpas; a Comissão de Ética é comandada pelo telefonema da esposa do Cafeteira. É a ânsia desesperada de senadores para enterrar o tema principal de nossa atraso: a cumplicidade tradicional entre empreiteiras e políticos.

Toda esta comédia mambembe é para nos desviar da questão principal, pois não se trata mais de saber se o Renan tinha ou não dinheiro para a pensão. É claro que sempre teve. A questão é a pergunta no ar: por que o Claudio Gontijo, lobista de uma empresa, é quem pagava dona Mônica em dinheiro vivo todo mês? Só isso. Por quô? Será que ele era boy do Renan?

Muito mais grave que um eventual crime do senador é o perigo de desmoralização do Senado. O que assusta nessa chanchada é que antigamente as patranhas, as tramóias eram mais respeitosas com a opinião pública.

Hoje não há mais respeito – não digo pela verdade; mas não há mais respeito nem pela mentira.

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