Ah, essa mania de exclusividade
Sobre a denúncia grave do Ministério Público, que acusa a imprensa pela morte da testemunha Ana Bruna, conforme o post abaixo, fui pesquisar.
Pelo que vi, a matéria que revelou a existência da testemunha foi publicada no Diário, no dia 10 de abril, sob o título (clique no link para ler a matéria completa):
Elucidada pistolagem contra um comerciante
O texto identifica a testemunha:
O depoimento de uma mulher, que convivia há quatro anos com o ex-soldado da Polícia Militar Ademir Mendes de Paula, 35 anos, morto com oito tiros no último domingo, foi determinante na elucidação da pistolagem do comerciante. “Foi o Ademir quem matou o Valter Portela e, por este crime, recebeu a quantia de R$ 10 mil”, contou a jovem (não identificada por questão de segurança). Ademir era envolvido em crimes de extorsão, assalto e, de acordo com a garota, “matou muita gente por aí”.
O texto não diz o nome da jovem, "não identificada por questão de segurança". A repórter esqueceu que, ao dizer que a mulher "convivia há quatro anos com o ex-soldado", já a identificou para os assassinos. Para o leitor em geral, a identidade foi preservada, não para os que estavam interessados no silêncio dela.
No dia 16, três dias depois da morte de Ana Bruna, a repórter tenta dar esclarecimentos, na matétia que tem o título Grupo de extermínio na PM foi denunciado pela jovem morta
Eis o trecho:
Quatro dias antes de morrer, ela deu uma entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, falando sobre o envolvimento do companheiro - o ex-soldado da Polícia Militar, Ademir Mendes de Paula - também assassinado recentemente - em um grupo de matadores, do qual também fazem parte pelo menos mais dois policiais militares que estão na ativa.
Na divulgação da entrevista, o Diário optou por não revelar detalhes do que a garota havia contado, envolvendo os PMs, para que não houvesse represália. Em matéria veiculada no dia seguinte, constava apenas o desabafo da adolescente falando sobre a participação do companheiro em crimes de pistolagem (como o que vitimou o comerciante Valter Portela, em 1° de março deste ano).
Lamentavelmente, não parece ser verdadeira a frase "o Diário optou por não revelar detalhe". Segundo o texto, "para que não houvesse represália". A realidade desmente o texto. O Diário revelou a identidade da testemunha, de apenas 17 anos. E disse que ela sabia tudo sobre o crime, a ponto de elucidar todos os crimes daquela rede de pistolagem. E a represália veio em seguida, da pior forma.
É um caso que merece reflexão, é uma questão ética, uma questão de vida.
É possível que o Ministério Público tenha razão. Também pesa sobre a imprensa a culpa pela morte de Ana Bruna, da mesma forma que pesa sobre as autoridades que não foram competentes para defendê-la dos bandidos. Nem de jornalistas.
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