Afinal, quem levou furo?
A coluna Comunicado não foi muito convincente, muito menos polida, ao responder às observações do ombudsman do Povo, publicadas ontem e comentadas neste link: Ombudsman - condutas impróprias.
À coluna:
Casos impróprios
O promotor Jarlan Botelho declarou, na audiência da Comissão de Defesa Social da Assembléia Legislativa, que a imprensa e especificamente o Diário do Nordeste, ao divulgar a existência de testemunha no caso da morte de Valter Portela, foi um fator relevante para a morte de Ana Bruna. Opinião imprópria: o promotor sabia da existência da testemunha e, como promotor da Vara da Infância e Adolescência em Maracanaú, ele próprio deveria ter pedido proteção para a menor. E não o fez, mesmo depois da publicação: a morte de Ana Bruna ocorreu três dias depois! Já o ombudsman do jornal ´O Povo´ considerou ´procedimento impróprio´ do Diário do Nordeste não verificar ´a oportunidade de publicação´(?) da matéria. Opinião imprópria. As autoridades, como o próprio promotor, já sabiam da existência da testemunha. ´O Povo´, no caso, foi ´furado´ porque não sabia. Querer o ombudsman justificar o furo com uma acusação é que é procedimento impróprio.
A coluna tentou desqualificar a acusação de procedimento impróprio feita pelo ombudsman do Povo em relação ao Diário. Seria para justificar um furo.
Furo mesmo quem levou foi a testemunha: três. Três dias depois de sua identidade ter sido "revelada" em matéria do Diário. O Ministério Público disse que isso foi fator determinante para a execução. Portanto, a discussão é procedente. Revelar detalhes identificadores aos criminosos foi determinante, como disse o MP, ou não? A matéria colocou em risco a vida ou não? O jornal errou ou não em publicar? Foi só para dar furo? Foi só por medo de levar furo?
Digamos que o comentário feito pelo ombudsman do Povo tenha sido feito por um leitor do Diário? Qual seria a resposta? E se O Povo dissesse que sabia da existência da testemunha (como é provável) e "segurado" a informação para preservar a garota?
A troca de acusações não isenta o jornal nem o Estado quanto a suas responsabilidades em resguardar a testemunha para evitar o que aconteceu.
Tudo começou no dia 5 de junho, quando O Povo publicou esta frase de Jarlan Botelho:
a divulgação na imprensa da existência de uma testemunha chave foi determinante para a execução de Ana Bruna.
Neste dia comentei a acusação neste link: Denúncia grave
Sobre isso, o Diário não trouxe nada, confira aqui Delegado e promotor trocam acusações na AL
Quer dizer, desde o dia 5, só hoje o jornal fala sobre a acusação, só depois que o ombudsman comentou.
O jornal resolveu centrar fogo no promotor, por não ter dado proteção à testemunha. E acrescentou: E não o fez, mesmo depois da publicação.
Esta frase - mesmo depois da publicação - revela que o tema merece reflexão, com calma. O jornal não se defende da acusação de conduta imprópria, lança outras acusações. Contra a omissão do Estado e a dor-de-cotovelo do concorrente.
Outra observação. O estilo da escrita de hoje, pelo menos a deste tópico, está meio canhestro, o que não é usual. Só pra verificar:
que a imprensa e especificamente o Diário do Nordeste, ao divulgar a existência de testemunha no caso da morte de Valter Portela, foi um fator relevante para a morte de Ana Bruna.
Um comentário:
Concordo com sua análise sobre o assunto. O Diário se mostra até "arrogante" ao criticar o concorrente e não reconhecer, em momento algum que - de uma forma ou de outra - teve co-participação na morte da garota.
Ah, embora o caso seja dramático, foi uma boa sacada: "afinal, quem levou o furo?"
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