Ombudsman do Povo
O ombudsman do Povo deu ouvidos às nossas observações sobre inverno. Primeiro, quero me associar ao pensamento do Liberdade digital, sobre o assunto, no post Olho na Mídia: ombudsman de O POVO atento às mudanças do jornalismo:
Sob o título INVERNO, a coluna do ombudsman abordou assim o assunto.
Blog Mirando a Mídia critica O POVO por usar a palavra inverno entre aspas ou seguida de parênteses: (quadra chuvosa ou período chuvoso). Lembra que inverno já está dicionarizado (Aurélio, Houaiss e Caudas Aulete) como regionalismo nordestino para designar a quadra chuvosa e, por isso, acha as aspas desnecessárias.
Ouvido pelo ombudsman, o meteorologista David Ferran, da Funceme, explica: "O inverno, no hemisfério sul, ocorre em junho e julho. Por isso, o mais correto é chamar a época de chuvas no Nordeste de período chuvoso".
Erick Guimarães, editor-chefe-executivo do O POVO, declara que o jornal opta pelas denominações quadra chuvosa ou período chuvoso: "Em respeito à linguagem popular não deixamos de usar inverno, mas acrescentamos a explicação necessária".
FONTE ERRADA - Louvável a disposição do ombudsman para o debate. Só acho que usou a fonte errada para respaldar O Povo. A questão é mais cultural, linguística, e menos climática. Com todo respeito, não precisaríamos ouvir um meteorologista para saber que "o inverno, no hemisfério sul, ocorre em junho e julho."
Sempre soube que o inverno, aqui no Brasil, começa em junho (21) e vai até setembro. Assim, o meteorologista errou até mesmo no seu campo. Vai ver que diminuiu para dois meses a estação para incluir mais uma. Teríamos, então, no Nordeste, cinco estações: verão, inverno, outono, primavera e quadra chuvosa.
Sugiro ampliar o debate para ouvir linguistas e gente ligada à cultura. Um lembrete para o editor-chefe-executivo. O jornal está deixando de usar inverno sim, só aparece na boca dos entrevistados, e vem logo seguido da explicação. Isso, ao contrário do que diz o editor, é desrespeito. Dedique um tempo à leitura das matérias sobre assunto e verá.
JUDIAÇÃO- o ombudsman também deu ouvido à patrulha do politicamente correto, quase sempre equivocada. Disse:
A nota "Judiação" do Canal 1, do caderno Buchicho, de sexta-feira última (25), incorre no anti-semitismo. "Judiação" e "judiar" - no sentido de maltratar - são palavras que ofendem os judeus.
Não é o que pensa o rabino Henry Sobel, em "Os 'porquês' do Judaísmo" (Congregação Israelita Paulista. São Paulo, 1983):
“O significado está claro: não há nada de pejorativo. Não fomos nós que maltratamos. Nós, os judeus, fomos maltratados. E cada vez que usamos a palavra ‘judiar’, estamos conscientizando os outros. O termo não deve ser eliminado. Pelo contrário, é bom que o mundo se lembre do preconceito do passado, para que não o permita no presente e no futuro”
Judiar tem a ver com judeu, é verdade. Mas quer dizer maltratar, como se maltratavam os judeus. Concordo com o rabino. Em vez de anti-semitismo, homenagem. Além do mais, ninguém liga o termo à sua etimologia. Outro problema: como cantaríamos Asa Branca, hino nordestino, neste trecho:
Quando olhei a terra ardendo/qual fogueira de São João/eu perguntei a Deus do céu/por que tamanha judiação?
2 comentários:
Sobre essa questão de inverno, o ótimo professor Gilmar de Carvalho tem uma explicação. Por coincidência está hoje no Diário:
"Rejeitamos o local e o regional, como se fossem menores. Esse desapego faz parte de uma mudança de casca da civilização, coitada, que pensa poder prescindir da tradição".
Gostei muito do seu blog
Paulo Verlaine é um jornalista de primeira qualidade. Tenho certeza que será um dos melhores a exercer a função de ombudsman do Povo e seu início já mostra isso.
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